1. A península que votou sob capacetes (Crimeia)
Soldados sem identificação cercaram os locais de votação enquanto equipes de TV filmavam sorrisos. Um referendo chegou mais rápido do que os advogados podiam imprimir cédulas. Moscou chamou aquilo de destino; Quieve chamou de roubo. Os turistas continuaram chegando, mas os mapas começaram a discutir.
2. A guerra que finge ser um cessar-fogo (Donbas)
Os cessar-fogos são anunciados como a previsão do tempo e depois quebrados como guarda-chuvas baratos. Trincheiras avançam pelos campos de girassol enquanto drones aprendem novos truques. Líderes trocam prisioneiros e acusações num só fôlego. Todos negam a escalada enquanto a artilharia fala.
3. O país que existe entre postos de alfândega (Transnístria)
Tem uma bandeira, um clube de futebol e uma linha de produção de nostalgia. Os pacificadores russos parecem nunca encontrar a saída. Contrabandistas e soldados compartilham as mesmas estradas em bom estado. A capital sorri com emblemas soviéticos que ninguém mais lembra.
4. A cerca que anda à noite (Ossétia do Sul)
Aldeões acordam e descobrem seus pomares subitamente do lado errado. Placas verdes brotam como cogumelos, escoltadas por homens silenciosos. A guerra de 2008 terminou, mas a linha continua se movendo. Os mapas coram enquanto o arame farpado faz geometria.
5. A Riviera com bandeiras que não combinam (Abecásia)
Guarda-sóis de praia protegem ruínas e pontos de controle na mesma medida. O reconhecimento é um item de colecionador, escasso e político. Moscou paga as contas e dita a previsão do tempo. Turistas compram pêssegos; o passado vende sussurros.
6. O pacificador que trouxe um cronômetro (Nagorno-Karabakh)
Um cessar-fogo chegou dourado com câmeras e veículos blindados de transporte de pessoal. Corredores abriram, depois se estreitaram, depois desapareceram. A Rússia vendeu capacetes a ambos os lados e tempo a nenhum. A palavra "status" virou uma contagem regressiva.
7. O golpe com telefones descartáveis (Montenegro, 2016)
Uma tentativa balcânica de adesão à OTAN encontrou um roteiro de meia-noite com cartões SIM descartáveis. Promotores acusaram o GRU; Moscou falou em conto de fadas. A trama parecia pulp, mas os veredictos foram reais. A adesão seguiu, e o gênero mudou para thriller.
8. A base aérea que mudou o clima de uma guerra civil (Síria)
As pistas de Hmeimim transformaram impasses em ruínas. Pilotos negaram bombardear hospitais enquanto coordenadas contavam outras histórias. O Kremlin chamou aquilo de contraterrorismo e um ensaio. Desfiles em Moscou carregaram o eco de Alepo.
9. A guerra de areia sem soldados oficiais (Líbia)
Homens sem insígnias minaram recuos e posaram sem sorrisos. Imagens de satélite viram o que os comunicados de imprensa não viam. Terminais petrolíferos tornaram-se peças de xadrez sob o sol do deserto. Contratantes disseram negócio; diplomatas falaram em intervenção por procuração.
10. A mina que paga pela segurança (República Centro-Africana)
Vídeos de treinamento prometiam disciplina, e concessões prometiam ouro. Murais agradeciam salvadores estrangeiros enquanto relatórios da ONU franziram a testa. Aldeias aprenderam novos uniformes e velhos medos. A influência viajava em comboios, faturas e canções.
11. O comboio que adorava golpes (Mali)
Bandeiras mudaram, e parceiros mudaram ainda mais rápido. Conselheiros chegaram com insígnias negáveis e pagamentos garantidos. Jihadistas se multiplicaram no vácuo do orgulho e da política. Paris deixou poeira; Moscou deixou sombras.
12. O gasoduto que virou cena de crime (Nord Stream)
Bolhas do tamanho de estádios desenharam fronteiras em espuma. Investigações se multiplicaram; conclusões, não. Dedos apontaram em círculos enquanto o inverno observava. A energia virou arma e um mistério sobre quem foi o autor.