1. O Olho do Saara (Formação de Richat), Mauritânia

Um conjunto perfeito de anéis concêntricos esculpidos no deserto que só faz sentido de verdade visto do espaço. Geólogos chamam-no de domo erodido, mas a simetria parece suspeitosamente intencional. Pilotos o usam como um alvo cósmico, e teóricos da conspiração juram que é a planta de Atlântida. Em pé no chão você vê nada além de rocha e vento, ainda que satélites mostrem um emblema que se recusa a ser comum.
2. Lago Natron, Tanzânia

Este lago alcalino de cor vermelho-sangue pode queimar a pele e conservar pássaros mortos como estátuas. Sua crosta reflexiva transforma o horizonte numa alucinação vítrea, enquanto os flamingos o tratam como uma maternidade. O ar cintila com calor e química, e sua noção de 'água segura' pede demissão. É belo, hostil e calmamente indiferente a qualquer coisa macia.
3. Campos Hidrotermais de Dallol, Etiópia

Poças ácidas verde-neon, torres de enxofre amarelo e respiradouros fumegantes pintam um postal marciano no lugar mais quente da Terra durante todo o ano. Metais corroem, drones falham e até mesmo micróbios discutem sobre viver aqui. Cheira a ovos podres e a viagem espacial ao mesmo tempo. Cada cor grita 'vida' enquanto, silenciosamente, trama apagá-la.
4. Igbo-Ora, Nigéria — A Capital dos Gêmeos

Uma pequena cidade com um número absurdo de gêmeos transforma maternidades em fábricas de espelhos. Os locais atribuem o feito às inhames e aos deuses na mesma respiração, e ambas explicações soam igualmente convincentes. Ruas se enchem de carrinhos duplos e roupas combinando, como se a genética tivesse decidido entrar em cosplay. Cientistas correm atrás dos dados enquanto avós já conhecem a receita.
5. Crocodilos da Gruta Abanda, Gabão

No fundo de uma gruta fedorenta de morcegos vivem crocodilos alaranjados que caçam na escuridão e nunca veem o sol. Sua cor estranha vem das paredes manchadas de guano e do isolamento, como se a evolução tivesse apertado o botão de avanço rápido. Banqueteiam-se com morcegos e insetos como num filme de horror reptiliano dirigido por um diretor muito paciente. Cada respingo ecoa uma espécie futura tentando acontecer.
6. Costa dos Esqueletos, Namíbia

Uma costa engolida por neblina onde as costelas de naufrágios sobressaem como os ossos de ideias fracassadas. Dunas rugem, lobos-marinhos latem, e nada parece interessado em deixá‑lo viver. O deserto devora a névoa do oceano e cospe cascos enferrujados como advertência. É o postal que você manda quando quer que seus amigos se preocupem.
7. Migração de Morcegos de Kasanka, Zâmbia

Por algumas semanas frenéticas, milhões de morcegos frugívoros inundam uma pequena floresta zambiana e transformam o crepúsculo num teto em movimento. O som é um trovão aveludado, e o guano é clima. Predadores alinham-se nas copas como apostadores que já combinaram o jogo. Estar lá é como ficar debaixo de uma nuvem viva que não se importa se você acredita nela.
8. Lago Nyos, Camarões

Um tranquilo lago em cratera certa vez exalou uma nuvem oculta de CO2 que rolou morro abaixo e apagou aldeias em minutos. A água parecia inofensiva — até não ser, o que é a característica mais assustadora que um lago pode ter. Engenheiros agora sifonam o gás com longos canudos prateados, na esperança de que o monstro arrote sem perigo. A margem ainda sussurra que o claro pode ser mortal.
9. Meteorito Hoba, Namíbia

O maior meteorito intacto da Terra repousa tão pesado num campo da Namíbia que ninguém jamais se incomodou em movê‑lo. Tocá‑lo parece apalpar o tempo que esqueceu de terminar de cair. Fazendeiros dividem espaço com uma rocha espacial, e o arranjo é estranhamente cortês. Transforma turistas em filósofos e fitas métricas em piadas.
10. Vidro do Deserto Líbio, Saara

Um canto remoto do Saara está coberto por vidro de tom amarelo-pálido forjado num antigo estouro atmosférico de meteorito, talvez até num impacto. Tutancâmon usou uma joia talhada a partir dele, o que transforma o deserto numa joalheria comandada pela física. Os cacos são afiadíssimos, quentes como o sol e estranhamente puros. Cada peça é um lampejo fossilizado de violência mascarado de gema.